A minha ligação com o mundo canino conta-se que remonta a poucos minutos depois de ter vindo ao mundo. Ainda a parteira não tinha tido tempo de me limpar, o Raff, um “quase” Fox liso do meu irmão, atirou-se à porta do quarto assim que dei os primeiros berros e tiveram de o deixar entrar. Desde esse momento tomou posição debaixo do meu berço e nunca mais de lá saiu, com prejuízo das pernas de alguns membros da família, que ele não achava dignos de se aproximarem do seu precioso bebé.

Até aos meus cinco anos, várias fotografias provam a intensidade da nossa mútua ligação.

Sempre convivi com cães, que eram propriedade dos meus irmãos mais velhos.

Preguei vários sustos ao meu Pai, porque teimava em relacionar-me com todos os cães de guarda, considerados bravos, com que o Dr. Cabral, insistentemente, povoava a nossa quinta.

Em 1961/62 tive finalmente o primeiro canídeo exclusivamente meu: a Panda, uma Pastor-Alemão, que tive de ensinar em menos de duas semanas para que fizesse parte integrante da família, antes que os meus pais se pudessem aperceber que (ao contrário do que eu garantia) nenhum deles me tinha autorizado a meter um cão em casa.

Quando comecei a fazer criação, o Dr. Cabral, grande amigo do meu Pai, e que me queria catequizar para a canicultura activa, convenceu-me a registar um canil.

Foi engraçado, porque eu queria pôr o nome da quinta que adorava, mas, como era
S. José da Urca, o bom doutor achou que era uma blasfémia e ficou só CANIL DA URCA.

Foram vários os anos em que me dediquei só aos pastores alemães (embora na quinta houvesse também Podengos Médios Lisos, não registados) e quando casei, o meu casal preferido seguiu-me para a nova casa. O Tako Takata da Urca e a velha Panda foram os guardiães, amas e companheiros incondicionais dos meus filhos mais velhos.

Quando nasceu o quinto rebento da família resolvi arranjar cães mais pequenos. Como exigia temperamento, inclinei-me para os Cairn Terriers.

Foram anos de óptimos sucessos em exposições. Como eram os meus seis filhos que colaboravam, nos grupos de criador levantava-se a dúvida – de cães ou de meninos?

Acidentalmente, comecei a apaixonar-me pelos Border Terriers. Dura até hoje! Deixei de criar Cairns e hoje os meus grandes companheiros são Borders.

Marcou muito a minha meninice um Podengo Médio da minha irmã, o Ramsés de Alvalade. Fiz uma jura a mim mesma se viesse a viver numa quinta, começaria com a sua criação.
Com o fim da caça grossa e das montarias, em consequência da revolução de Abril, os Podengos Grandes Cerdosos estavam em vias de extinção. E agora, eu vivia numa quinta!

Assim, graças ao João Bessa, comecei a trabalhar para que aquele nosso património nacional não desaparecesse.

Já lá vão quase 25 anos que crio Podengos e desde há seis anos recomecei com os Borders, tendo por base uma cadela inglesa Plushcourt e um cão sueco Orvikens.

Em homenagem a um grande companheiro da minha juventude, fiz criação de Serra da Estrela. Exportei para a Suécia, e reimportei, por ironia, uma cachorra neta da minha primitiva.

Tenho vários cães em canil mas dentro de casa um Vizsla, uma Podenga Grande e quatro Border Terriers são os meus companheiros.

O que resta da criação de Cairns vive agora vetustamente em Lisboa com tratamento VIP e mimos dedicados de um dos meus filhos.

Creio que com o andar dos tempos, como criadora, me vou dedicar somente aos Border Terriers, embora não ponha de parte a possibilidade de voltar a ter um Pastor Alemão.

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